Na pretensão de ser simplesmente poeta
Amanheço mais um dia no frio de Lisboa, acordo cedo e caminho pelas ruas, a brisa fina rompe o meu sorriso embriagado pelo sono dessa manhã fria e linda.
Sigo caminhando calmamente, luvas e goro para proteger do frio, cachecol colorido como a vida, desperto dos meus pensamentos e percebo que cheguei cedo demais a aula.
O gosto do café ainda sabe na boca, o sabor amargo, delicado do seu sabor habitual, o qual adoro.
Que pretensão querer eu ser poeta, a vida me faz artista sem o ser, mas finjo que sou e sigo, distribuindo sorriso.
A caneta me lembra as palavras que produzirei, poderei eu seguir sem destino a saber que sou simples e mortal, ou simplesmente mortal? Vejo flores amarelas a surgir no vão da estrada, parece primavera, o sol forte, mas o vento não, o, deixa aquecer meu corpo frio.
Sigo, a frente carros param na passagem de peão, eu atravesso ou a vida atravessa em mim, subo as escadas, a minha cicatriz reclama, arde, uma sensação que queima, quero chegar logo ao destino e poder me sentar.
Este ano não correrei na Ponte 25 de Abril, ainda não consigo correr, ando lentamente e já me canso, será a idade, ou os temores do não sei, ou simplesmente a fadiga do tempo ocioso?
As luzes se acendem e a manhã parece reluzente, ao fundo avisto o Tejo, com o brilho do sol por sobre suas águas gélidas, que frio, enfim, silêncio o professor entrou na sala.
Na pretensão de ser poeta esqueci o verso e o poema estirado na estrada, seco, insólito como ar. Ou terá morrido comigo no silêncio que cintila o vento?
Lilia Trajano
2 comentários:
Pode até ter esquecido o verso mas continuas a brincar com as palavras de maneira agradável e delicada...
Obrigada linda, mais penso que você é suspeita hehehe, beijos.
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