Cartas Lisboetas te saúda

Bom dia, boa tarde e boa noite.
Sejam bem-vindos ao meu blog, ele foi criado partindo da ideia de uma amiga sobre a minha escrita.
Tentarei postar alguns momentos descritos por mim como uma carioca que resolveu há 9 anos viver em Lisboa.
Espero não decepciona-los, um abraço e sejam bem-vindos a minha pequena morada.
Lilia Trajano

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A DOR É DE QUEM TEM!

                                        QUEM CARREGA A DOR

Hoje acordei mais cedo, uma manhã fria, um vento fino, levantei e me arrumei para ir ao velório e enterro do vizinho, Sr. Fernando, não era pessoa amável, mas era vizinho, bons ou maus temos que tratar bem as pessoas, não sabemos ao certo o que os fizeram ser amargos.

Dona Alda, a viúva, sua companheira de longa data estava inconsolável, era um casal estranho, hora estavam aos gritos, insultos e ofensas, um para com outro, ora os encontrava sentados a varanda, ela no colo dele, trocando caricias como dois jovens casais de namorados, diga-se de passagem, o que não é relevante, eles já lá iam com mais de 65 anos de idade, e por isso era de estranhar tais comportamentos ou não, gostava de apreciar o casal.

Quase ninguém compareceu ao velório ou ao enterro, como disse-me outra vizinha, ele era um homem bruto, não lhe dei ouvidos, o Sr. Fernando a mim e a Isabelle sempre nos tratou com muita educação, tinha lá suas manias era certo, mais nada que fugisse do normal.

No velório, ela muito amavelmente veio ter comigo e Isabelle para agradecer nossa presença, depois chorava, exclamava com dor:  

- Porque deixaste-me Fernando?

A dor é dela, só ela sabe o que será daqui por diante sua vida.

Os filhos dela não gostavam dele, seus parentes tão pouco.

Sr. Fernando costumava sentar-se na sua varanda, com um rádio de pilha ao ouvido, escutando músicas, as vezes cochilava e nem me via passar quando saia para trabalhar. Costumava, nos alertar sempre, para termos cuidado com um miúdo que de vez enquando vinha a nossa casa, o miúdo era de família cigana, e ele nos alertava com medo que ele roubasse coisas na nossa casa, agradecíamos a sua preocupação, afinal éramos vizinhas recém-chegadas a Vila Lopes, e não sabíamos ao certo como as coisas funcionavam ali. Lá se vão no tempo quase três anos desde que chegamos à Vila Lopes.

A Vila Lopes é uma dessas típicas vilas antigas da cidade de Lisboa, com casas baixas e pequeninas, um lugar sossegado para se viver, com uma vista agradável para o Tejo.

Sr. Fernando não era um homem de muitas palavras, para nós tinha sempre um sorriso nos lábios.

Desci com o senhorio até o cemitério do Alto São João, e assistimos a cremação e último adeus ao Sr. Fernando, descanse em paz e que Deus console o coração de Dona Alda.

Lilia Trajano

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