Cartas Lisboetas te saúda

Bom dia, boa tarde e boa noite.
Sejam bem-vindos ao meu blog, ele foi criado partindo da ideia de uma amiga sobre a minha escrita.
Tentarei postar alguns momentos descritos por mim como uma carioca que resolveu há 9 anos viver em Lisboa.
Espero não decepciona-los, um abraço e sejam bem-vindos a minha pequena morada.
Lilia Trajano

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Após ler sobre as três jovens que aparecem com vida depois de 10 anos num cativeiro sendo abusada sexualmente pelo sequestrador, um pastor estrupador, motorista de ónibus atropelando ciclistas, mensaleiros culpados soltos a curtir a nossa cara, bandidos culpados soltos pela justiça e pessoas inocentes, pobre e favelado presa, hospitais sem condições de atendimento e o Governo querendo importar médicos, ao invés de, investir na saúde, ao invés de, investir na educação resolvem ampliar, destruir e construir estádios de futebol, só Raul para me salva, então eu digo: Pare o mundo eu quero descer!
Lilia Trajano

Pare o Mundo Que Eu Quero Descer
Raul Seixas

Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais escovar
Os dentes com a boca cheia de fumaça
Você acha graça por que se esquece que
Nasceu numa época cheia de conflito entre raças
Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais tirar fotografias
Pra arrumar meus documentos
É carteira disso, daquilo que ja até
Amarelou minha certidão de nasciment

 E ainda por cima:
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer
Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais esperar
O Corinthians ganhar o campeonato
E trabalhar feito um cão pra pagar multas, impostos,
Pedágios pra poder engordar os crapus
Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais noticias de
Corrupção, violencia que não param de aumentar
E pensar que a poluição contaminou até as
Lágrimas e eu não consigo mais chorar
E ainda por cima:
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer
Tá tudo errado, tá tudo errado
Desorientado, cego vivo enquanto eu vou
Ficando aqui parado
Tá tudo errado, tá tudo errado
Eu só quero ter você comigo e mandar
O resto tudo pros diabos
Tá tudo errado, tá tudo errado
Desorientado, cego vivo enquanto eu vou
Ficando aqui parado
Tá tudo errado, tá tudo errado
Eu só quero teu amor aqui comigo e mandar
O resto tudo pros diabos
Tá tudo errado, tá tudo errado
Desorientado, cego vivo enquanto eu vou
Ficando aqui parado
Tá tudo errado, tá tudo errado
Tá tudo errado, tudo errado
Tá tudo errado, tudo errado
Tudo Errado

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O NOSSO MELHOR DE CADA DIA!



Bom dia segunda feira, com o brilho do sol, mas ainda frio, e possibilidade de que a chuva que passou todo o fim de semana por aqui volte e fique alguns dias mais.

Carta Lisboeta meu blog, que tento mais não consigo ser disciplinada, volta a colocar mais um texto para inquietar corações, assim deseja esta autora que não espera reacção nem comentário mas que todos tenham um bom dia feliz.

Um dos assuntos que me desperta interesse e me possibilitou a inspiração para escrever é mais uma vez sobre o futebol, e neste contexto me vem a mente alguns acontecimentos que tem gerado primeira paginas dos  grandes jornais, como, o caso de alguns jogadores que já foram brilhantes e o deixaram de ser, outros que tentam, mas não conseguem o carisma da torcida e outros que nada esperam apenas deseja que seu exemplo possa melhorar o mundo.

Eu penso como leiga que sou, que não percebo nada de futebol, apenas gosto de assistir a grandes partidas, me emocionar com dribles perfeitos, e chorar de alegria ao ver meu time o Glorioso Botafogo ganhando, comemorar cada suspiro e cada gota de suor que foi derramada pelos 11 jogadores em campo, como não poderia deixar de ser o que me move é a excelente entrevista de Seedorf, dada ao Jornal O Globo no domingo:

Seedorf o homem que quer mudar o jogo

O fato dele ser do time do meu coração me deixou mais feliz ainda as suas declarações as quais aqui destaco alguns trechos, que na minha visão leiga, é o que deveria ser seguido por todos os jogadores como espírito esportivo: 

Todo lugar é minha casa. Fico bem onde estiver morando, … Mas é claro que cada um tem suas origens, e a minha eu não esqueço, porque tenho família e tenho historia.”

Penso que se alguns jogadores tivessem essa consciência da sua verdadeira origem, talvez os seus actos desesperados de acções ridículas não fossem necessário e muito menos a desculpa de ser ridículo por ter nascido em uma favela, isso só mostra e demonstra que certas pessoas não evoluíram e não aprenderam nada com a vida, e que talvez nunca tenham tido realmente uma educação e por isso fazem este papel imbecilizado, nem sempre dinheiro põe a mesa.
 
“Choro é sinal de força. Quem chora tem coragem, e um atleta deve descarregar sua dor.” 

“Na minha vida, perdi mais do que ganhei. Com todo mundo é assim. Mas a vitória, mesmo, que fica, é a da constante superação e dos valores que passamos, independentemente dos números.”

Vejo recentemente outro grande jogador sempre a dar entrevistas, ou não dar entrevista porque não se considera respeitado no time a qual defende a camisa, enquanto que outro grande jogador seu rival por excelência não chuteira de ouro, é amado e respeitado pela torcida e pelo clube no qual defende a camisa. 

E de novo me vem a mente a referencia de Seedorf, que é preciso reconhecer e não esquecer as suas origens, mas acrescento ainda que não só reconhecer as suas origens como ter espírito esportivo e acima de tudo humildade, acho que um jogador que só pensa e ser melhor que o outro, em querer marcar tantos gols quanto o outro, ou ser premiado mais que outro, na verdade não está a ser exemplo de nada além da mera competição. Claro, o objectivo de qualquer equipe de futebol é ganhar a partida, o campeonato, mas, se não se tem humildade  para se ganhar, não é, não minha visão leiga de futebol, merecedor de prémio nenhum.

E concretizo com a frase de Seedorf que resume um pouco o que é na essência o espírito esportivo, sorte teve os antigos craques do futebol, de décadas passadas que jogavam por amor ao clube e a arte de driblar, não tinham salários milionários e por isso valorizavam cada partida como se fosse a ultima e acima de tudo respeitavam a sua torcida

“O futebol me dá a possibilidade de ajudar o mundo a melhorar. Quero dar minha parte. É algo que vou descobrir à medida que vou fazendo e que já está em mim desde pequeno.”

Que cada um de nós possa também dar a nossa parte para a construção de um mundo melhor. 

Bom resto de semana a todo!



Lilia Trajano



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"Quem fala de mim tem Paixão"



LISBOA, 16 DE NOVEMBRO DE 2012
"Quem fala de mim tem paixão!"

Ontem a noite descobri que pessoas que eu amo e guardo no meu coração com respeito e carinho não me querem mais no rol de amizades deles, talvez tenham usado um texto ostensivo demais para dizer algo tão simples: "você não é mais bem vida a nossa casa ou a nossa família". 

Fiquei a me indagar o que aconteceu? Onde foi que o click rompeu com a razão e a loucura? O amor e amizade? o respeito e a cumplicidade? Descobri que não vale a pena tentar entender, as pessoas são como são, não há mudanças, elas sempre foram o que são, nós, é que quando estamos cegos de amor, não vemos o que é essencial além da divisa que separa o ser do espírito. Não tenho raiva disso, nem da atitude dessa família, que como disse a eles, seguirei amando e com eles sempre presentes no meu coração. 

O que senti foi tristeza, tristeza por saber que daqui por diante não poderei mais ver as crianças, que não poderei acompanhar as suas brincadeiras, adolescência, o seu crescimento, isso me causa tristeza, mas como sou uma pessoa que tenho fé, e digo pode chover enxofre em cima de mim, que me torno cinza mas me ergo novamente como uma Fénix guerreira que renasce das cinzas, mas não perco a fé, vou seguir amando o ensinamento que Jesus nos deixou, vou seguir confiando em tudo que Deus preparou ou me ajudou a preparar no meu caminho, sigo em paz com minha consciência tranquila, e se um dia vocês que aqui retrato como a minha família adoptiva de Portugal, se um dia vocês quiserem voltar a partilhar comigo a minha estrada, serão sempre bem-vindo porque vocês moram no meu coração e seguirei rezando por vocês, por que sei que oração não faz mal a ninguém.

Um beijo fraterno a vocês: meu amigo que me abriu a porta de sua casa e de sua família, me ensinou muita coisa, obrigada por este tempo que pude partilhar contigo, minha amiga e "comadre" que sempre admirei como profissional, como mãe, menino 1, o menino curioso e cheio de energia, atencioso, sempre prestativo e menino 2, meu anjo, que me fez ver a vida com as cores de um arco-íris, que nem sabe o quanto foi e é importante na minha vida. 

Aqui fecho a pagina dessa historia, toda historia tem que ter um fim, talvez o fim nunca seja como a gente espera, mas vou encarar isso como o fecho de um livro que a gente chega na pagina final, um livro daqueles que a gente nem quer terminar de ler por ser bom estar lendo, mas o fim chega.

FIM
LILIA TRAJANO

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Marilia sem Dirceu!



Marília agora está sem Dirceu.

O Partido dos Trabalhadores agora está com 32 anos, se contarmos o início dele à 10 de Fevereiro de 1980, ou com 30 se nos retermos ao ano em que oficialmente ele se torna um partido para o Tribunal Superior da Justiça Eleitoral.

Eu tinha 17 anos quando comecei a participar do Partido dos Trabalhadores, na minha época jovem não votava, eu era militante radical, pode-se dizer, quem viveu comigo naquela época sabe, fui até chamada pela oposição na altura de ‘radical xiita’ e nem sequer, sabia o que era xiita.

Acompanhei a militância em todas as suas instâncias e sempre me posicionei contra a qualquer atitude que o partido tomava e que eu julgava contraria a ideologia ética partidária. Fiz essa manifestação na atura em que houve a expulsão de Luiza Erundina do Partido, e penso que foi nesta mesma altura que faço a minha filiação oficial, queria brigar pelo que acreditava dentro e não fora do partido.

Sou o que se pode chamar partidária de carterinha, e mesmo hoje estando longe do meu país, nunca deixei de acompanhar a tejetoria do Partido dos Trabalhadores, o qual deixo a militância em 2002, ano em que deixo o Brasil.

Ainda aqui em Lisboa fiz parte do grupo que aqui organizou o PT em Portugal. Isso para dizer, que me sinto a vontade para expressar a minha satisfação em ver justiça sendo feita com pessoas ligadas ao PT. Me sinto muito a vontade para poder expressar que se somos pessoas democráticas, que acreditamos na ética, na justiça e na igualdade de direitos, não podemos sentenciar o outro e achar que todos que estão do nosso lado do barco são inocentes. A vida nos ensina que fazemos escolhas, que escolhemos direcções e que muitas das vezes escolhemos o caminho errado. Isso não nos transforma em pessoas má ou perigosa, apenas diferencia do outro, mas, quando alguém que está no nosso barco comete um crime, temos que agir com dignidade para entendermos, com ética e acima de tudo com respeito por tudo que o outro fez, mas virarmos o rosto para fingir que o errado não existe, porque o outro tem um passado de militância de esquerda, de bravas lutas numa época em que se vivia a ditadura, é o mesmo que dizer: Basta ser ex-preso politico e ter sido torturado que tudo que você fizer agora será perdoado. Não, definitivamente, não concordo com isso, a Lei foi feita para todos, independente da raça, religião, orientação sexual, estatuto social. Entretanto só vemos a lei agir de forma dura e opressiva para o lado mais pobre, para os que nascem em uma favela, para os que não sendo branco, são discriminados a partida por serem negros.

Tenho orgulho desse momento que o Brasil passa, que juízes do Supremo Tribunal tenham coragem para acusar, processar, julgar e condenar, pessoas que antes nem sequer seriam julgadas.

Se essas pessoas vão ser presas, é outra historia. Mas temos que ter a hombridade de assumir que houve falhas e graves, que houve crime, não somos menores ou piores por isso, somos coerentes. Somos pessoas dentro da sociedade que espelhamos ao outro as nossas atitudes, por isso temos que ver com os olhos de fora, e não com vendas nos olhos, porque se não ensinarmos o essencial, estaremos então caindo no ridículo de achar sempre que o outro é que está sempre errado, o outro é que tem a doença, nós estaremos sempre certo, isso não pode ser.

Se a ética, a dignidade e a justiça sempre foram a base do Partido dos Trabalhadores, então chegou a hora de provar que acreditamos nesses valores e quando digo nós, digo pessoas militantes, partidárias do PT, provar que o nosso slogan não é um discurso vazio, mas a certeza que sabemos quando erramos, e que pelo fato de errarmos não nos diminuem em nada, porque saberemos como poucos erguer a cabeça, e manter acesa a chama da luz que fez brilhar a estrela solitária. Um bom dia a todos. Lilia Trajano

sexta-feira, 20 de julho de 2012

On – Rocinha em Off!

Lisboa, 19 de Julho de 2012.

Fiquei a pensar que devo ter vivido fora da Rocinha 20 anos e não 9 – tempo que me encontro em Portugal – ao ler Rocinha em off.


Pensei: onde será que eu andei que não vi certas coisas acontecerem, fora do Rio não foi, fora da Rocinha também não, porque sempre vivi na Rocinha.

Me assusta certas informações, me assusta ver que pessoas subam tão depressa e se destaquem por uma cena ou outra, me assusta o nome Líder Comunitário, penso: será que fui um dia Líder Comunitária? Nunca quis este título, nunca quis ter este estatuto. O que é ser Líder Comunitário? É a evolução dos tempos onde as pessoas ganham fama por fazer o que deve ser feito.

Comecei atuar na Rocinha com 14 para 15 anos, no grupo de Teatro da Associação com Dona Maria do Teatro - falecida -, de seguida fui trabalhar na Escolinha Comunitária da Rua 2, e daí para associação de moradores - UPMMR.

Éramos um grupo bom, de pessoas que agiam, como me disse sabiamente meu amigo Harold Avlis, “nós não éramos líder, nós éramos agentes comunitários, gente que fazia”, Líder para mim e na minha maneira de ver é Nelson Mandela, e foi em homenagem a ele o primeiro movimento na Rocinha para aquisição da Casa da Cultura, o nome era: Movimento Pró Casa da Cultura da Rocinha Libertem Nelson Mandela, fizemos eventos na rua, Palco sobre Rodas, poesia, participamos do concurso para aquisição da Lona Cultural, ganhamos a Lona Cultural, ainda na gestão do secretário de cultura o ator António Pedro, não levamos a Lona, porque não tínhamos lugar para por na Rocinha, era um jogo politico sujo e de interesse e por esta razão a Lona Cultural seguiu para outra comunidade, e mesmo sem a lona mantivemos o desejo de fazer o trabalho cultural atuávamos eu, minha irmã Maricea, Fábio, Harold, Herton, Marly, Carlos, Jorge e Heloisa.

Ailton Rosa ajudou na nossa proposta de fazer show na rua, era um cara experiente, tinha visão e juntos fizemos desfiles, concursos, apresentação de teatro e cinema.

Meu trabalho foi sempre na área da saúde e da cultura, sempre marquei este dois pontos como um marco no que eu acreditava ser importante para os moradores, nunca quis aparecer, nunca achei que fosse importante, não projetava nisso uma ambição futura, queria e penso que o grupo que eu trabalhei, também, queria que a comunidade ganhasse, isso era o primordial. Queríamos que a comunidade tivesse acesso a cultura, a cidadania, educação, saúde e lazer.

A Rocinha perdeu o rumo, porque muita gente só queria aparecer, queria ganhar dinheiro, se dar bem, depois não conseguiram mesurar até onde poderiam ir e neste sentido, é que se perde, e a criminalidade aproveita essa brecha, aproveita os oportunistas existentes para impor o seu poder de domínio.

O barco foi a deriva, mas não naufragou, alguns de nós saímos de cena, e ai apareceram os que hoje se acham os responsáveis por estas ideias, os primórdios das ações implementadas, ledo engano, apenas pegaram a sopa no fogo e puseram um pouco de tempero e ganharam o título de Chef, com o melhor cardápio, o que esteve atrás foi esquecido, ficou na memória, tempos bons da história, seu Inácio, historiador já falecido que nos ensinou valores que os “pseudo” lideres comunitário hoje, na minha visão não tem.

Fico triste ao saber nas entrelinhas de um livro que o personagem “Tilinho” podia ter morrido, e mais triste ainda fico, que se tal fato acontecesse, o nome dele ficaria sujo, seria considerado mais um bandido abatido na favela.

Fico triste de saber que não estava lá, que não pude dar o meu apoio ao meu amigo. Fico triste por saber que muita gente até hoje acha que o “palhaço” é culpado, fico triste por constatar ainda que pessoas roubem ideias dos outros e usem nosso nome, registem jornais e se dizem idealizadores de um projeto cultural, quando o mesmo apenas foi convidado a participar, e que agiu como um traíra nos apunhalando pelas costas.

Fico triste por saber que os engravatados de Brasília do governo presidido pelo Governo PT continuem soltos, alegando inocência, enquanto pessoas simples por nascer em uma favela, por viver em uma favela, vai parar atrás das grades como se fosse um bandido, porque foi visto ao lado de traficantes, porque ouviu-se conversas no seu rádio ou celular. Ele também alega inocência, porque que ele está preso, e os engravatados estão a curtir a vida na maior?

Por outro lado, fico feliz porque meus amigos não morreram, fico feliz por ter estado fora do que se transformou a comunidade que eu nasci, fico feliz por não pertencer mais a esta história.

Dia 17 de Julho recebo duas informações, o Livro Rocinha em off com uma dedicatória do meu amigo Carlos Costa e a notícia de que Dona Fátima havia falecido há cerca de um mês, mãe da minha amiga Maria Helena Carvalho, fiquei triste porque só agora soube.

Será por isso que ela queria colo? Que precisava do meu abraço, desculpa amiga por não estar ai ao teu lado.

Dia 18 de Julho de 2012, termino a leitura do livro Rocinha em Off, difícil parar de ler, difícil não chorar, acho que dá para fazer uma mesa de debates com alguns pontos ali descritos.

É belo, emotivo, direto, e triste, será que a vida é isso? Nossos sonhos terminarem assim?

Fico por aqui e desejo muito sinceramente que Tilinho volte e de continuidade a sua história e que o final seja de realização, de contemplação e alegria, como nas vitórias dos festivais da escola, em que ganhávamos e festejávamos bebendo guaraná e comendo pão com mortadela e bolo pulmam, um abraço fraterno aos meus amigos e em especial a você Carlos Costa, que a sua caminhada continue cheia de luz. 


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bom dia por um mundo melhor!


O Coringa

Há três anos atrás fui agredida dentro de uma instituição que abrigava crianças e jovens em risco em que eu trabalhava. Estava no exercício da minha função quando tocaram a porta da entrada, estava eu no terceiro piso da instalação institucional indo levar as crianças menores de 10 anos para escovar os dentes e deitar. Desci as escadas e fui até a porta, não havia olho magico, por ser tarde e se tratar de uma instituição de crianças e jovens, perguntei quem era, me responderam e pela resposta abri a porta.

Se soubesse que seria agredida minutos depois pelos familiares de três crianças que estavam sobre o abrigo da instituição, não teria aberto a porta. Nunca sabemos do perigo que nos espera.

Porque toco nesta assunto tanto tempo depois? Bem, ontem foi o julgamento das três mulheres que me agrediram, não fiz queixas contra elas, mas como a situação envolvia três crianças que estavam sobre o abrigo do tribunal de menores, o Ministério Publico entrou com uma ação, e eu fui chamada como testemunha do Ministério Publico.

Minha outra colega que também foi agredida e foi ameaçada de morte pelos familiares, fez queixa na policia, entrou com uma ação de indemnização, de ameaça e tentativa de homicídio.

Sempre fui questionada por não ter feito o mesmo, não sou Teresa de Calcutá, mas quando apanhei não me preocupei se poderia morrer,  já que estava sendo enforcada pela mãe das crianças, e já quase a desfalecer, me preocupei com o olhar de desespero das crianças que me acompanharam até ao hall da entrada e que desesperadas e sem reação, apenas choravam ao me ver apanhando, me preocupei com o trauma que aquilo poderia causar a elas no futuro, me preocupei com as crianças que foram levadas pelos seus familiares na qual já havia queixas de maus-tratos.

Olhei para aquelas pessoas que me batiam e rezava, pedia perdão por elas, pedia perdão se eu havia falhado no meu papel. Não me senti agredida, apesar de fisicamente estar estendida no chão, com fissura no maxilar direito, traumatismo craniano, mas pensei, ainda consegui forças para pensar: elas querem agredir o sistema que lhes tiraram o direito de ser mãe, de ser família, eu apenas estava no caminho entre elas e este sistema. Nada vale como desculpas nesta hora, mas não queria causar mais dor e sofrimento as crianças, achei que o tribunal já estava a fazer o seu papel, a minha queixa não alterava nada, apenas agravava os fatos envolta delas, mas ao denunciar o sequestro, achei que já tinha feito a minha parte.

Nunca chorei por isso, nunca tive raiva delas, nunca tive no meu coração nenhum rancor ou vontade de me vingar, nunca tive medo

Ontem me vi numa situação que não me imaginava, me vi diante delas, tendo que relatar na presença de três juízes: do Ministério Publico; do Tribunal de Menores; do Crime de Ação Penal Qualificada, tudo que aconteceu naquela noite fatídica em que quase morri.

Parece que tudo veio de novo a minha mente como um filme em que me via apanhando, chorei feito criança diante daquele tribunal, que mandou que saíssem as agressoras da sala para que eu pudesse continuar meu depoimento. Tremia e chorava, mal conseguia falar, muito tranquilamente a juíza se dirigiu a mim e disse: Conceição eu sei que é difícil você ter que passar por tudo isso novamente, mas é preciso, leve o tempo que precisar, mas nos conte o que aconteceu.

Relatei tudo entre lágrimas e soluços engasgados.

Os advogados da defesa da agressoras, não tinham preparado nada contra mim, porque só se preocuparam com a acusação da minha amiga, até aquele momento eu não existia para eles, por isso me senti como um coringa no fim de uma jogada onde a acusação até então tinham ideias vagas do acontecido, porque a minha colega que entra com a acusação não tinha presenciado tudo que eu presencie, não tinha visto o sequestro das crianças e nem tinha sido agredida por um homem que surgiu na porta e que me deu um soco que me deixou no chão, após ter sido informado pelas agressoras que eu “não era a tal pessoa que eles queriam ‘pegar’.”

Pensei comigo: se apanhei tanto a ponto de desmaiar sem ter culpa de nada do que elas alegaram, o que teriam feito elas a minha colega, se ao invés de ser eu, fosse ela que abrisse a porta?

Continuo a rezar, rezo pelas crianças que continuam institucionalizada, rezo para que elas consigam um mundo melhor sem tanta violência.

A sentença ainda não foi proferida, mas sei através da advogada da minha colega que elas podem apanhar mais de 12 anos de cadeia, e que depois do meu depoimento pode se agravar mais ainda a situação delas.

Temo pelas crianças que crescem em família desestruturadas, de violência, e sinto falta da minha família, e penso que são poucas as famílias como a minha, que apesar de termos nascido e crescido em um ambiente de favela, eramos unidos, amigos, afectivos, meus pais nunca usaram de violência connosco, sempre utilizou o dialogo, acho que falta isso na sociedade, falta dialogo, falta afeto, falta respeito, falta amor.

Neste 28 de Junho de 2012, desejo a todos um bom dia.

Lilia Trajano – nome de poeta de Conceição Sobrinho

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Quando há uma Argentina no meio do Brasil


Quando há uma Argentina no meio do Brasil

O futebol é uma caixinha de surpresas, há 9 anos a viver em Lisboa, só vejo os jogos da selecção brasileira através da Internet. Não conheço o time escalado, nem seu técnico, a única coisa que sei é que torço pela camisa canarinho.

Dizem que há jogadores bons, que fazem grandes jogadas nos clubes que defendem a camisa, mas que quando essas estrelas se juntam com a camisa canarinho no peito, parece que deixam pra trás o futebol que encanta as torcidas dos clubes.

A rivalidade ente Brasil & Argentina vai longe, e sempre um estresse anunciado, de horas fatigantes que iremos vivenciar.

Foi assim neste sábado, de um lado o tal sonhado jogador que se espera tornar ídolo da selecção canarinho Neymar, do outro o chuteira de ouro, considerado o melhor jogador do mundo Messi.

O jogo pareceu apático, com momentos triunfantes de arranque com belíssimos gols de Messi, o Brasil de Neynar tentou, mas ele nem chegou lá, os gols foram marcados por outros jogadores, que a dado momento da partida, parece desistiu de jogar porque achou que a partida já estava resolvida, esqueceram porém de que Messi não desiste da bola, e jogando sem marcação facilmente chegava a área de ataque, driblando o goleiro, deixando a zaga pra trás e fazendo belíssimos gols, se isso foi só um amistoso, tenho medo do que estar por vir na copa de 2014.

Conselho de quem não entende nada de bola, mas adora assistir as grandes partidas de futebol, primeiro para se vestir a camisa canarinho tem que ter orgulho em ser brasileiro, e depois mostrar ao mundo porque já fomos varias vezes campeões do futebol. Jogadores com salários milionários mas que não jogam com garra não vale a pena defender a selecção canarinho, essa é pra quem ama o futebol e não o dinheiro.

Lilia Trajano